Cultura

Eu estou 3 meses na Itália e não conheço muito sobre a música local. Mas não é por culpa minha, se eu entro na sorveteria tá tocando “Ai Se Eu Te Pego” ou se vou num pub a TV ligada na MTV Itália tá passando o bizarro clipe de “Wrecking Ball” e pra piorar a situação, os italianos que eu tenho no facebook só compartilham música gringa. A impressão que eu tive até agora é que a Itália atualmente não tem uma cultura musical muio forte. Eu até já sabia disso antes de vir pra cá, afinal quando se fala de música na Itália se ouve falar de Adrea Bocelli, Eroz Ramazzotti, dois nomes que faziam sucesso na mesma época que Roupa Nova, e de Laura Pausini, sucesso nos anos 90. Pra conhecer novos nomes eu procurei o auxílio das rádios, uma delas, a Radio Cuore, faz um “top 5” das musicas italianas do momento, e pra minha angústia o chart era composto pelos mesmos nomes que conhecia, só que composto por músicas novas. O foco não é a qualidade das músicas, inclusive gostei muito de uma, “Il Sale Della Terra” de Luciano Ligabue, e sim o fato de não ter surgido nomes novos na música italiana. Mas aí um brasileiro pode dizer: “no Brasil hoje não tem música boa, os bons artistas são os antigos, saudade Legião Urbana, saudade Cazuza”. Eu sei que isso não é verdade, pois existem grandes nomes na atualidade como Siba, Tulipa Ruiz, Karina Buhr, Marcelo Jeneci e talvez até saiba o motivo de muitos dizerem isso, fazer música é difícil, sem o apoio da mídia é difícil fazer sucesso, talvez por isso que Siba permanece sendo um gênio com menos valor do que um Michel Teló, conhecido em todo mundo. Então eu paro pra pensar, eu não conheço nenhuma música italiana atual por falta de divulgação ou por que elas não existem?

Uma coisa que eu sinto falta é de sair na rua e ouvir nos bares ou nos carros de som a legítima música popular, que no caso da minha cidade é o brega. Isso mesmo, o bregão, aquele que é a vizinha toca nas alturas nos sábados de manhã. Essa expressão da periferia é uma coisa nossa e aqui não tem nada parecido, pelo contrário, italiano nesse aspecto é bem “paga pau” de americano, ouvem rap alto no carro, usam boné e camisa de time de basquete. Italiano só é bairrista quando se trata de comida, aí sim, pra eles café e pizza só nacionais, tanto é que aqui não existe nem Pizza Hut e nem Starbucks, e ninguém sente falta, muito menos eu, aqui eu passo bem nesse aspecto.

Falando de cultura em geral, aqui tenho acesso a algo que não tinha em Recife, nesse pouco tempo pude ver exposição de Renoir, Andy Warhol, Salvador Dalí, Picasso, Rodin e Magritte. Em algumas dessas pude notar a presença de professores com seus alunos. É um privilégio pra uma criança poder aprender sobre arte de frente com as obras originais, isso pode fazer elas se interessarem mais pelo assunto. No Brasil isso não é possível, pra trazer uma exposição dessas é necessário um investimento gigantesco e quando acontece é somente no Rio ou em São Paulo. Mas quem precisa de cultura erudita quando se tem formas genuínas de cultura popular? Sinto muita falta de ir pra Olinda num domingo a tarde pra ouvir um bom maracatu. E assim como as crianças europeias tem o costume de ir a galerias, a cultura em Pernambuco deveria ser ensinada nas escolas, sobretudo nas públicas.

Uma coisa que eu não sinto saudades, pois aqui estou bem servido, é da “cultura de estádio”, ir pro jogo do Torino não é a mesma coisa que ir pra Ilha do Retiro, mas me sinto em casa junto dos “granatas”. A torcida do Toro é fora de série, o time não ganha nada há anos e enquanto isso o maior rival, a Juventus (ou robentus), papa todos canecos, e mesmo assim o estádio está sempre cheio. E é essa a graça do futebol, o espetáculo do torcedor, a qualidade dos jogadores é detalhe.

Ainda faltam 8 meses pra eu voltar pra “terra dos altos coqueiros” e espero até lá descobrir mais sobre a música italiana, aproveitar as exposições de arte e ver muitos jogos do Toro. Intercâmbio é isso, aprender sobre a cultura local, extrair o que ela tem de boa. Mas ao mesmo tempo é bom refletir sobre as diferenças entre as culturas, assim é possível ver as qualidades do Brasil e trazer ideias pra amenizar os defeitos.

Ligabue – “Il sale della terra”: http://www.youtube.com/watch?v=IUWtAUKYmAQ

Notícia sobre a exposição “Impressionismo: Paris e a modernidade”, que trouxe pela primeira vez ao Brasil algumas obras de Monet, Van Gogh, Manet e Renoir: http://www.brasil.gov.br/cultura/2012/07/obras-primas-de-monet-van-gogh-manet-e-renoir-virao-pela-primeira-vez-ao-brasil

Pra quem quer conhecer um pouco sobre o “gênio Siba”: http://www.youtube.com/watch?v=uTS-nWOYkqw

Sobre celiogouveia

19 anos, Estudante de Engenharia Civil da Universidade Federal de Pernambuco em intercâmbio na Itália (Turim).

Publicado em novembro 28, 2013, em Uncategorized. Adicione o link aos favoritos. Deixe um comentário.

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